10 de marzo de 2020

Sophia de Mello Breyner Andresen

Retrato de una princesa desconocida


Para que ella tuviera un cuello tan fino
para que sus muñecas tuviera un quebrar de tallo
para que sus ojos fueran tan frontales y limpios
para que su columna fuera tan recta
y ella llevara la cabeza tan erguida
con una tan simple claridad sobre la frente
fueron necesarias sucesivas generaciones de esclavos
de cuerpo doblado y gruesas manos pacientes
sirviendo a sucesivas generaciones de príncipes
todavía un poco toscos y groseros
ávidos crueles y fraudulentos

Fue un inmenso desperdicio de personas
para que ella fuera aquella perfección
solitaria exiliada sin destino



Sophia de Mello Breyner Andresen. Retrato de uma princesa desconhecida (escritas.org)
Trad. E. Gutiérrez Miranda 2020


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Retrato de uma princesa desconhecida

Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos


Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino




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