19 de abril de 2023

Eugénio de Andrade

Las palabras

Son como un cristal
las palabras.
Algunas, un puñal,
un incendio.
Otras,
rocío apenas.

Secretas vienen, llenas de memoria.
Inseguras navegan:
barcos o besos,
las aguas estremecen.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tejidas son de luz
y son la noche.
E incluso pálidas,
verdes paraísos aún recuerdan.

¿Quién las escucha? ¿Quién
las recoje, así
crueles, deshechas
en sus conchas puras?



Eugénio de Andrade. As palavras (poetryinternational.com)
Trad. E. Gutiérrez Miranda 2023


                    ∼

As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?



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