20 de abril de 2023

Eugénio de Andrade

Ahora las palabras

Me obedecen ahora mucho menos
las palabras. Sin razón
alguna refunfuñan, no hacen
caso a lo que les digo,
no respetan mi edad.
Quizá se hayan hartado de las riendas;
no me perdonan
la mano estricta, la indiferencia
ante la pirotecnia.
A mí me gustan, nunca tuve otra
pasión, y a ellas durante muchos años
también les gusté: bailaban en corro
en torno a mí cuando las encontraba.
Con ellas hacía lumbre,
sustentaba mis días, pero ahora
me son ariscas, se me escapan de entre
las manos, me enseñan los dientes
si intento retenerlas. ¿O será
que solo busco ya las más encabronadas?



Eugénio de Andrade. Agora as palavras (blogspot.com)
Análise de "Agora as palavras" de Eugénio de Andrade (blogspot.com)
Trad. E. Gutiérrez Miranda 2023


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Agora as palavras

Obedecem-me agora muito menos,
as palavras. A propósito
de nada resmungam, não fazem
caso do que lhes digo,
não respeitam a minha idade.
Provavelmente fartaram-se da rédea,
não me perdoam
a mão rigorosa, a indiferença
pelo fogo-de-artifício.
Eu gosto delas, nunca tive outra
paixão, e elas durante muitos anos
também gostaram de mim: dançavam
à minha roda quando as encontrava.
Com elas fazia o lume,
sustentava os meus dias, mas agora
estão ariscas, escapam-se por entre
as mãos, arreganham os dentes
se tento retê-las. Ou será que
já só procuro as mais encabritadas?



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