25 de abril de 2016

Fernando Pessoa

Miro lo que no veo

Miro lo que no veo.
Es tarde, es casi oscuro.
Y cuanto en mí deseo
está parado ante el muro.

Encima el cielo es grande;
lejos árboles se ven;
pero aunque el viento ablande,
hay hojas en vaivén.

Todo está del otro lado,
en lo que hay y en lo que pienso.
Ni hay tallo agitado
que al cielo no sea inmenso.

Se confunde lo que existe
con lo que duermo y soy.
No siento, no soy triste,
pero triste es lo que estoy.



Fernando Pessoa. Contemplo o que não vejo (arquivopessoa.net)
Trad. E. Gutiérrez Miranda 2016


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Contemplo o que não vejo

Contemplo o que não vejo.
É tarde, é quase escuro,
E quanto em mim desejo
Está parado ante o muro.

Por cima o céu é grande;
Sinto árvores além;
Embora o vento abrande,
Há folhas em vaivém.

Tudo é do outro lado,
No que há e no que penso.
Nem há ramo agitado
Que o céu não seja imenso.

Confunde-se o que existe
Com o que durmo e sou
Não sinto, não sou triste,
Mas triste é o que estou.


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