6 de julio de 2019

Manoel de Barros

El libro sobre nada

Es más fácil hacer un placer
        de la estupidez que de la sensatez.

Todo lo que no he inventado es falso.

Hay muchas maneras serias de no decir nada,
        pero solo la poesía es verdadera.

Tiene más presencia en mí lo que me falta.

La mejor manera que he hallado de conocerme
        a mí mismo es haciendo lo contrario.

Soy muy preparado de conflictos.

No puede haber ausencia de boca en las palabras:
        que ninguna quede desamparada del ser que la ha revelado.

Mi amanecer será de noche.

Mejor que nombrar es aludir.
        El verso no tiene por qué tener sentido.

Lo que sostiene el encanto de un verso
        (además del ritmo) es la falta de lógica.

Mi interior es más visible que un poste.

Sabio es aquel que adivina.

Para tener más certezas
        tengo que conocer mis imperfecciones.

La inercia es mi principal acción.

No salgo de dentro de mí mismo ni a pescar.

La sabiduría podría ser que sea estar en un árbol.

El estilo es un modelo anormal de expresión:
        es un estigma.

El pez no tiene honores ni horizontes.

Siempre que quiero decir algo, no hago nada;
        pero cuando no quiero decir nada, hago poesía.

Yo querría ser leído por las piedras.

Las palabras me esconden despreocupadamente.

Donde yo no estoy las palabras me encuentran.

Algunas historias son tan verdaderas
        que a veces parecen inventadas.

Una palabra se ha abierto la bata frente a mí.
        Desea que yo la sea.

La terapia literaria consiste en desorganizar el lenguaje
        hasta el punto de que exprese nuestros más profundos deseos.

Quiero la palabra que sirva en la boca de los pajaritos.

Esta tarea de cesar es lo que empuja a mis frases delante de mí.

Ateo es una persona capaz de demostrar científicamente
        que no es nada. Solo se compara con los santos.
        Los santos quieren ser los gusanos de Dios.

Lo mejor para no llegar a nada es descubrir la verdad.

El artista es un error de la naturaleza.
        Beethoven fue un error perfecto.

Por pudor soy impuro.

El blanco me corrompe.

No me gusta la palabra acostumbrada.

Mi diferencia es siempre menos.

La palabra poética tiene que alcanzar
        el grado de juguete para ser seria.

No necesito el final para llegar.

Del lugar en el que estoy ya me he ido.



Manoel de Barros. O livro sobre nada (revistabula.com)
Trad. E. Gutiérrez Miranda 2019


                    ∼

O livro sobre nada

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Tem mais presença em mim o que me falta.
Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.
Sou muito preparado de conflitos.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
O meu amanhecer vai ser de noite.
Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção.
O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.
Meu avesso é mais visível do que um poste.
Sábio é o que adivinha.
Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore.
Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma.
Peixe não tem honras nem horizontes.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.
Eu queria ser lido pelas pedras.
As palavras me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as palavras me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Uma palavra abriu o roupão pra mim. Ela deseja que eu a seja.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Esta tarefa de cessar é que puxa minhas frases para antes de mim.
Ateu é uma pessoa capaz de provar cientificamente que não é nada. Só se compara aos santos. Os santos querem ser os vermes de Deus.
Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.
O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
Por pudor sou impuro.
O branco me corrompe.
Não gosto de palavra acostumada.
A minha diferença é sempre menos.
Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.
Não preciso do fim para chegar.
Do lugar onde estou já fui embora.





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