Un mar rodea el mundo de quien está solo. Es
el mar sin olas del fin del mundo. Su agua
es negra; su horizonte no existe. Dibujo
los contornos de ese mar con un lápiz de
niebla. Borro, sobre su superficie, todos los
pájaros. Los veo abrigarse de la goma de borrar
en las grutas del litoral: las aves asustadas de
la soledad. «Es un mundo impenetrable» dice
quien está solo. Se sienta en la orilla, considerando
su caso. No existe nada más allá de él, hasta
ese blanco amanecer que le obliga a recordarse
que está vivo. Entonces espera a que la marea suba,
en ese mar sin mareas, para tomar una decisión.
☛ Nuno Júdice. Solidão (escritas.org)
Trad. E. Gutiérrez Miranda 2019
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Solidão
Um mar rodeia o mundo de quem está só. É
o mar sem ondas do fim do mundo. A sua água
é negra; o seu horizonte não existe. Desenho
os contornos desse mar com um lápis de
névoa. Apago, sobre a sua superfície, todos
os pássaros. Vejo-os abrigarem-se da borracha
nas grutas do litoral: as aves assustadas da
solidão. «É um mundo impenetrável», diz
quem está só. Senta-se na margem, olhando
o seu caso. Nada mais existe para além dele, até
esse branco amanhecer que o obriga a lembrar-se
que está vivo. Então, espera que a maré suba,
nesse mar sem marés, para tomar uma decisão.
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