Despójate de verdades
de las grandes antes que de las pequeñas
de las tuyas antes que de cualquier otras
cava un hoyo y entiérralas
a tu lado
primero las que te impusieron cuando eras aún dócil
y no poseías mácula sino la de un nombre extraño
después las que creciendo penosamente vestiste
la verdad del pan la verdad de las lágrimas
pues no eres flor ni luto ni caricia ni estrella
después las que ganaste con tu semen
donde la mañana yergue un espejo vacío
y un niño llora entre nubes y abismos
después las que han de poner sobre tu retrato
cuando les suministres el gran recuerdo
que todos esperan tanto porque lo esperan de ti
Nada después, solo tú y tu silencio
y venas de coral rasgándonos las muñecas
Entonces, mi señor, podremos pasar
por la planicie desnuda
tu cuerpo con nubes en los hombros
mis manos llenas de barbas blancas
Allí no habrá demora ni cobijo ni llegada
sino un cuadrado de fuego sobre nuestras cabezas
y un camino de piedra hasta el fin de las luces
y un silencio de muerte a nuestro paso
☛ Mário Cesariny de Vasconcelos. Discurso ao príncipe Epaminondas, mancebo de grande futuro (archive.org)
Trad. E. Gutiérrez Miranda 2015
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Discurso ao príncipe Epaminondas, mancebo de grande futuro
Despe-te de verdades
das grandes primeiro que das pequenas
das tuas antes que de quaisquer outras
abre uma cova e enterra-as
a teu lado
primeiro as que te impuseram eras ainda imbele
e não possuías mácula senão a de um nome estranho
depois as que crescendo penosamente vestiste
a verdade do pão a verdade das lágrimas
pois não és flor nem luto nem acalanto nem estrela
depois as que ganhaste com o teu sémen
onde a manhã ergue um espelho vazio
e uma criança chora entre nuvens e abismos
depois as que hão-de pôr em cima do teu retrato
quando lhes forneceres a grande recordação
que todos esperam tanto porque a esperam de ti
Nada depois, só tu e o teu silêncio
e veias de coral rasgando-nos os pulsos
Então, meu senhor, poderemos passar
pela planície nua
o teu corpo com nuvens pelos ombros
as minhas mãos cheias de barbas brancas
Aí não haverá demora nem abrigo nem chegada
mas um quadrado de fogo sobre as nossas cabeças
e uma estrada de pedra até ao fim das luzes
e um silêncio de morte à nossa passagem
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