I.
yo cuando corto relaciones
corto relaciones.
nada de eso de
pelea de aficiones
en todos los
partidos.
es la destrucción del estadio.
veo las fuerzas
que actúan, la tijera,
el papel,
la voluntad de cortar.
¿es todo provocación?
así que mezcla
tu taquicardia
con helado de almendra
y reza para que se derrita.
cuando recuerdo el
corte revivo la
herida.
mejor no.
el corte es definitivo,
el dolor vuelve en forma
de milán madrid
o liverpool
cuando se le convoca.
ricardo
recuerda tu pasado
solo si te da
placer.
how elizabeth
bennet of you.
pero ¿obtener
deleite de la pérdida,
convencer a fulana
de que mi debilidad
no evita nada?
¿exigir un río de janeiro
con gatos y libros,
esposa legítima?
sigo soñando con
el viaje a un país donde el
idioma sea vértebra
sobre vértebra,
palabras con j
antes de l,
y cascotes griegos
que me devuelvan
al alquiler de la casa.
II.
una novia
que se pinta las uñas
es inolvidable.
tú puedes
admirar los colores,
mirar por la ventana
y elegir cualquiera
de ellos: el verde del capó
de aquel coche,
el rojo del
trocito de manzana
en la barandilla,
el ocre de la liana
de tarzán en la tele,
y pensar que
quedarían más bonitos
en las uñas de tu
novia
que ese marrón
achocolatado
y cambias de canal
y al final te entusiasmas
por el olor de la acetona
III.
las mujeres son
diferentes de las mujeres
porque
mientras las mujeres
van a trabajar
las mujeres se quedan
en casa
fregando los platos
y criando a los hijos.
más tarde llegan
las mujeres,
están siempre cansadas
y se ponen a ver la televisión.
IV.
tuve una novia
que no quería
convencerme de que
la vida es una mierda.
era raro como un desagüe
en el que se ve la puesta de sol,
raro como un gallo gago,
un faro, un farol parlanchín.
V.
tuve una novia
con superpoderes
de invisibilidad
y cuando iba con ella
yo también era invisible
pero cuando se ponía
una blusa transparente
se convertía en la increíble
mujer-teta.
yo seguía
bajo el paraguas
de superpoderes,
superinvisible,
envidiable
junto a las
cervezas y los
supercacahuetes.
VI.
tuve una novia
que combinaba
mi sufrimiento
con braguitas
azul bebé,
diminutivos y
new order.
yo solo quería
pintar flores
a rienda suelta,
revolcarme
en las palmeras
de plástico
del edificio,
huir dejando
dos hijos,
los textos completos
de suzanne vega,
como los dejé
un martes
lejos de las cajas
de cartón
y el beso a tu madre.
VII.
el final del día
sería hermoso, tú
descubriendo que
el agua del retrete
gira hacia el otro
lado
en japón
sin tener con
quien compartir
esa información.
un tiempo
para acostumbrarse
a las noches de uno
y mil dentífricos,
sheherazade del
aliento de las
becas de estudio.
VIII.
el final del día
sería lejos
de vila mariana
con una botella
de gato negro
tinto
del supermercado.
en algún viñedo
de chile
alguien canta
y es hetero.
IX.
el día siguiente
en tu cama
sábanas de
cêlos con
circunflejo,
el dolôr con
circunflejo,
porque es
antiguo y
como el café pelé
todos lo conocen.
X.
no debieras casarte
con alguien que no te
lleve de pesca
o a ver la puesta de sol
en el desagüe de la bañera
o en la cima de una colina.
hay pocos lagos
en dinamarca, dijo ella,
y me ofreció un
caramelo
masticable
cubierto de chocolate
medio amargo.
la montaña más
alta de dinamarca
mide 173 metros,
cien veces tú,
mi amor, y le di
caramelos.
XI.
no debieras casarte
con una subversiva
que lleva un máuser
debajo del poncho
y bragas
de algodón crudo
que no hacen juego
con los calcetines,
que ve una de godard
y eructa coca cola,
que anota en
las esquinas de las páginas
de antologías poéticas
de ediciones gallimard
«¡hermoso!» o
«how true!»
XII.
no debieras casarte
con ella,
punto final.
susana thénon,
hija de un neurólogo,
se murió de tanto
cerebro.
si la historia se
repitiese, tan
mínima e irónica,
las hijas de las monjas
nunca se casarían,
harían pastelillos de boda
pero no tendría
sentido.
y la familia de
angélica freitas
finalmente invitaría
a la sociedad
pelotense al
enlace
de sus hijas
angélica & angélica
en la catedral
de san francisco
de paula
a las 17 horas del
día 38-39 (brasil)
40 (europa).
☛ Angélica Freitas. Um útero é do tamanho de um punho (academia.edu)
Trad. E. Gutiérrez Miranda 2019
∼
O livro rosa do coração dos trouxas
I.
eu quando corto relações
corto relações.
não tem essa de
briga de torcida
todos os
sábados.
é a extinção do estádio.
vejo as forças
que atuam, a tesoura,
o papel,
a vontade de cortar.
tudo é provocação?
então embrulha
tua taquicardia
num sorvete de amêndoas,
reza que derreta.
quando lembro do
corte revivo a
ferida.
melhor não.
o corte é definitivo,
a dor retorna em forma
de milão madri
ou liverpool
quando convocada.
ricardo
lembra do teu passado
só se te dá
prazer.
how elizabeth
bennet of you.
mas tirar
deleite da perda,
convencer fulana
de que minha fraqueza
nada oblitera?
exigir um rio de janeiro
com gatos e livros,
legítima esposa?
fico sonhando com
a viagem a um país onde a
língua seja vértebra
sobre vértebra,
palavras com j
antes do l,
e cacos gregos
que me devolvam
ao aluguel da casa.
II.
uma namorada
que pinte as unhas
é inesquecível
você pode
estranhar as cores
olhar pela janela
e pegar qualquer
uma: o verde do capô
daquele carro
o vermelho do
restinho de maçã
no meio-fio
o ocre do cipó
do tarzan na tv
e pensar que
seriam mais bonitas
nas unhas de sua
namorada
do que esse marrom
achocolatado
e troca o canal
e se apaixona afinal
pelo cheiro da acetona.
III.
as mulheres são
diferentes das mulheres
pois
enquanto as mulheres
vão trabalhar
as mulheres ficam
em casa
lavando a louça
e criam os filhos
mais tarde chegam
as mulheres
estão sempre cansadas
vão ver televisão.
IV:
eu tive uma namorada
que não queria
me convencer de que
a vida era uma merda
é raro como um ralo
onde se vê o pôr-do-sol
é raro como um galo gago
um faro um farol palrador.
V.
eu tive uma namorada
com superpoderes
de invisibilidade
e quando andava com ela
também era invisível
mas quando ela usava
uma blusa transparente
virava a incrível
mulher-teta
eu continuava
sob o guarda-chuva
de superpoderes
superinvisível
invejável
ao lado das
cervejas e
superamendoins.
VI.
eu tive uma namorada
que combinava
meu sofrimento
com calcinhas
azul-bebê
diminutivos e
new order
eu queria era
pintar flores
na marreta
chafurdar
nas palmeiras
de plástico
do edifício
fugir deixando
dois filhos
as letras completas
da suzanne vega
como deixei
numa terça
longe das caixas
de papelão
e do beijo na tua mãe.
VII.
o fim do dia
seria lindo, você
descobrindo que
a água da privada
gira para o outro
lado
no japão,
sem ter com
quem dividir
a informação.
um tempo
para se acostumar
às noites de um
e mil dentifrícios,
sheherazade do
hálito das
bolsas de estudo.
VIII.
o fim do dia
seria longe
da vila mariana
com uma garrafa
de gato negro,
tinto
de supermercado.
nalguma vinha
do chile
alguém canta
e é hétero.
IX.
o dia seguinte
na tua cama
de lençóis
zêlo com
circunflexo,
a dôr com
circunflexo,
porque é
antiga,
como o café pelé
todos a conhecem.
X.
não devias te casar
com alguém que não te
leva a pescar
ou a ver o pôr-do-sol
no ralo do banheiro
ou no cume de um morro
há poucos lagos
na dinamarca, ela disse,
e me ofereceu um
caramelo
mastigável
coberto de chocolate
meio-amargo,
a montanha mais
alta da dinamarca
tem 173 metros,
cem vezes você,
meu amor, e dê-lhe
caramelos.
XI.
não devias te casar
com uma subversiva
que usa mauser
debaixo do poncho
e calcinhas
de algodão cru
em desacordo
com as meias
que vê um godard
e arrota coca-cola
que anota em
canto de página
de compêndios poéticos
das edições gallimard
“lindo!” ou
“how true!”
XII.
não devias te casar
com ela,
ponto final.
susana thénon,
filha de neurologista,
morreu de tanto
cérebro.
se a história se
repetisse, toda
nanica e irônica,
as filhas das freiras
nunca se casariam,
fariam bem-casados
mas não fariam
sentido.
e a família de
angélica freitas
por fim convidaria
a sociedade
pelotense para
o enlace
de suas filhas
angélica & angélica
na catedral
são francisco
de paula
às 17 horas do
dia 38-39 (brasil)
40 (europa).
☛ PyoZ ☚